Vinha com o amarrado de cipó na mão esquerda e trazia o facão na direita.
Parou ao lado dos trilhos.
Quase invisíveis sob a vegetação, seguiam para o desconhecido.
Deitou a carga no chão, ajoelhou-se devagar e aproximou o ouvido da viga.
Deu com o dorso do facão e ficou ouvindo o tinir de aço com aço viajar até o fim do mundo.
Era um barulho diferente do grito da sumaúma quando ele batia nas sapopembas com as mãos espalmadas.
O tuc-tuc grave das águas no interior das raízes ocas da mãe do mundo soava como uma chegança, uma saudação da mata para seus habitantes.
O tuin zunido do trilho era uma coisa que ele não conseguia decifrar, deixava o peito apertado e a cabeça embaralhada.
Desconfiava que iam dar na cidade. Queria muito conhecer. Não podia. A mãe tinha jurado.
Por causa desta cisma, uma vez, quando era mais moço, voltara pra traz depois de caminhar mais de dia beirando a linha. Sentiu que era aviso o pontilhão destruído numa garganta do rio.
Enxergou o brilho dos trilhos se esticando na outra margem e fechou os olhos.
A mãe não ia gostar. Nunca mais seguira aquele rumo.
Levantou-se e procurou a sumaúma. Contornou o roçadinho de mandioca e foi beirando o rio até chegar na quedinha d`água. Pediu licença a árvore e retirou com cuidado um talho de casca.
Encontrou a mãe perto do fogo, rasgando e amassando as folhas que chegavam até o meio do pote de barro. Botou no chão o amarado de cipó e a casca da sumaúma.
Saiu sem rumo, sentindo a umidade da mata tomar conta de seu corpo.
Sentiu uma tristeza nova.
Não deu por si deitando-se sobre os dormentes e apoiando os braços sobre os trilhos, as mãos segurando o aço. A noite o encontrou ainda imóvel. Tentando comungar com o desconhecido.
Cismando.
Queria muito conhecer a cidade.
Quem sabe a mãe não esquecia a jura ?
Ela agora esquecia tanta coisa.
A lua subiu e ele bateu com os indicadores sobre os trilhos.
Não ouviu nenhum som.
Continuou esperando.
Imóvel.
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