"Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil", foi a conclusão a que chegou o botânico francês August de Saint-Hilaire que nos visitou no início do século XIX.
As saúvas e o Brasil continuam coexistindo.
Manchetes dos jornais de hoje anunciam um novo escândalo político
financeiro.
Quem não sabia que a PETROBRAS estava aparelhada e era usada para apoiar
a política partidária?
Pobre Brasil, a safadeza é tanta que o que espanta é a naturalidade com
que recebemos a transformação em notícia do que era boato.
Isto me dói muito, porque acredito que a aceitação de uma transgressão
pela sociedade é o primeiro passo para descriminaliza-la e repactuar os limites
do aceitável. Não podemos esquecer que a glamorização e legalização social do jogo do
bicho pelos cariocas foi o que permitiu o surgimento dos donos de morro e o
estabelecimento dos territórios controlados por facções.
A leitura da cronica especializada faz crer que novidade aparentemente não é o assalto ao dinheiro público
mas o volume que foi surrupiado.
Tenho o sentimento de que todos, ou quase todos, os políticos desviam dinheiro
público e que nenhuma quantia seja suficiente para sacia-los. Acredito também
que o produto do butim não seja usado, como justificam quando apanhados, para
custear o partido ou campanhas e sim para exercerem e, como é dito hoje em dia, "ostentarem", seu poder.
O tamanho do desvio depende da tecnologia e dos operadores disponíveis. No Estado Novo já se roubava, e muito, dos Institutos de Previdência. De Ademar a Maluf, Barbalho e Collor a
arte de assaltar a Viúva só fez se aperfeiçoar. Neste novo século Marcos
Valério, Youssef e Paulo Roberto Costa adicionaram requintes de sofisticação e uma
impressionante melhoria na produtividade do negócio.
Corre a história de que Paulo Roberto resolveu fazer o acordo de delação para não pagar o pato
sozinho, com 40 anos de prisão, como aconteceu com Marcos Valério. Bobagem, o
STF já foi desidratado. O negão já foi demonizado e devidamente
aposentado.
No jogo de xadrez existem situações em que para preparar um xeque-mate
precisamos sacrificar uma peça, às vezes até mesmo a rainha.
Com Aécio amargando um humilhante terceiro lugar em Minas e sendo Lula inimputável, ouso pensar, com os botões de minha camisa, e
apenas com eles, que o alvo do vazamento da notícia pode não ter sido o PT mas
o PSB de Marina.
Sacrificar Vaccarezza, Vaccari Neto, e outros aliados num pacote acrescido de
símbolos odiados pelo eleitor como Renan, Jucá e Lobão como
forma de desmoralizar a "nova política" e virar o jogo eleitoral não seria
uma estratégia impossível, além de ser - e isto é que é incrível - de baixo risco, porque a corrupção do PT já foi absorvida pelo eleitor. Quem vota no PT vota em Zé Dirceu e no Delúbio.
Os botões de minha camisa acham que sou meio paranoico. Divergimos assim
desde que lhes confidenciei que ao contrário do que apregoa o PT, a maior parte
da imprensa é sim, sua aliada. O mantra da necessidade de controle social da
mídia seria uma tática para pressionar a publicação das versões que lhe
interessam e para ampliar a repercussão do noticiário que possa lhe ser
favorável.
Não sei se dando razão aos botões de minha camisa acabo concordando com Luciana Genro, e também não
vejo muita diferença entre Dilma, Aécio e Marina. A política econômica vai ser a mesma com qualquer um deles. A equipe de
governo provavelmente vai ter o nível muito melhorado, mesmo que vença Dilma.
Preocupa-me apenas a possibilidade cada vez mais real de bolivarização do estado.
E isto não se discute na campanha. Os políticos sempre acham que nós, o
povo, não entendemos nada de política.
A proposta de criação dos soviets por decreto, defendida com vigor por Dilma e não descartada por Marina é uma ameaça real à nossa já adolescente
democracia representativa, aquela, que segundo Winston Churchill, é mesmo um regime
ruim, mas ainda é o melhor que tá tendo.
O decreto pode ser rejeitado pelo Congresso ou pode ser aprovado e não
dar em nada, afinal o Brasil é o paraíso das leis que não colam. Mas também
pode ser a enzima catalisadora utilizada para exacerbar as lutas de classe que
vem sendo fomentadas pela esquerda aloprada nos últimos doze anos.
Quem viver verá.
Coragem galera, se nem as saúvas acabaram com o Brasil não vai ser a roubalheira e a impunidade que irão conseguir.
A propósito, o candidato que mais me agrada como pessoa é Eduardo Jorge, pela
honestidade e franqueza com que apresenta suas idéias.
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