domingo, 9 de novembro de 2014

Sexta Feira

17:30
No monte de São José
Ana Rita passa roupa, pensa no Zum, e se assusta de novo com a notícia da gravidez.
A médica do posto já tinha confirmado, ela é que ainda não tinha tanta certeza.
Bala Chita tenta morder a alça solta da rasteirinha de Ana Rita que esta dançando em sua frente.
No morro das Pedras 
Roberta tira do freezer uma das três formas de pastel que preparou para a noite de sexta feira e reza pra não ter confiado muito na sorte. O comércio anda muito ruim.
Gera Doido se sente aliviado com o apoio do Zum, de dois ia ser mais fácil fazer o ganho e se acertar com o Vitor.

17:40
No monte de São José
Ana Rita atende o celular. O Zum tinha aparecido, estava na quadra da Gentios.
Veste o top novo da Juliana e troca o shortinho por outro mais curto.
Vai pagar pau pro namorado sumido.
Vai dizer que desistiu de trabalhar no restaurante, que topa ir morar no lote da mãe dele.
Nunca mais brigava com o Zum.
Nunca mais ia se importar com a cara feia de Dona Climércia
No morro das Pedras
Zum estava com saudades da Ana Rita e já se sentia cansado de esperar.
Tinha armado para encontra-la por acaso, ela sempre ia zoar na esquina da Gentios.
Gostava muito dela, mas também gostava de sair com a Jessica, não podia deixar as duas trabalhando no mesmo emprego.
Nada dela aparecer, e ele que não ia perguntar, não ia dar ideia a ninguém.
Quem apareceu foi o Gera Doido.

17:45
No monte de São José
Ana Rita vê a mãe e a irmã chegando pelo terrão e desiste de tomar o ônibus na Raja, vira à esquerda e segue pela Sete Câmara cortando o bairro a pé.
Bala Chita vai junto, passeando, ora à frente, ora se atrasando com as novidades do caminho.
Zum cismara de ter ciúmes com o trabalho que ela conseguira no restaurante.
Tão pertinho, dinheiro tão bom.
Cismara e sumira, há quase uma semana, nem celular atendia.
Entrou no matagal pelo buraco do muro e foi batendo a trilha até o beco da creche.
Parou um instante para se arrumar.

18:00
No morro das Pedras
Ana Rita vai andando devagarzinho pelo beco ensaiando a conversa com o Zum.
Ia dizer que gostava dele e que só ia trabalhar onde ele deixasse.
Deixava para contar a novidade depois.
Viu primeiro o Gera Doido, olhando de um lado para o outro procurando alguma coisa.
Só depois viu o Zum, parado no semáforo, no canteiro central, conversando com um motorista.
Tão bonito o Zum, tenis shox, bermuda branca, boné da Nike.
Esqueceu o que queria falar, levantou o braço e chamou alto. 
Zum !
Ele vinha atravessando, sorrindo, uma bolsa na mão esquerda, uma automática na direita.
Seus olhares se encontraram.
O dela transbordando de esperança, o dele navegando na surpresa.

18:01
No morro das Pedras
A bala do tiro, que o motorista errou, encontrou a testa de Ana Rita e a derrubou no passeio.
O segundo disparo, que ela nunca ouviu, atingiu a nuca do Zum que ficou caído no asfalto.
Gera Doido, saltou o corpo da moça e protegido pela carroceria dos ônibus parados no ponto de embarque, saiu vazado pela Raja Gabaglia.
Passou direto pela cancela do terrão e entrou em um ônibus que seguia para o centro.

18:10
No monte de São José
Juliana chora alto abraçada com a mãe.
Ela sabia que notícia ruim sempre é verdadeira.
No morro das Pedras
Dona Arnaldina, merendeira da creche,  acende uma vela ao lado de Ana Rita e espanta Bala Chita, que teima em morder a tira da rasteirinha.
Roberta tira a segunda forma de pasteis do freezer e pede ao marido para buscar mais cerveja.
O trânsito trava nos dois sentidos da avenida.
Jessica chora baixinho, segurando a mão do Zum, ele ainda não sabia que ela estava grávida, com certeza ia largar da outra.
A terceira viatura da polícia chega para ajudar a organizar a ocorrência.

22:15
Na pedreira Prado Lopes
Gera Doido descobre que o combinado não é caro.
Vitor, passa uma descompostura em Ginguinha: pra quebrar este aí não precisava gastar três balas, deixasse o bico no manual.
No Luxemburgo
Bala Chita perambula pela Gaicuí procurando Ana Rita que a deixou sozinha no mundo






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