sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Estagiários

Estava sentado em seu lugar favorito no universo, a beirada de sua nuvem, com as pernas balançando contra o azulzinho do céu de abril. Podia ficar séculos ali, quietinho, só apreciando o passeio dos cometas e a piscação das estrelas.
Quando olhou à esquerda percebeu Berenice, sentada na beirada de outra nuvem, distraída com um planeta novinho que resolvera se enfeitar com um cinturão de meteoros.
Não hesitou nem um instante, colheu um fiapo de nuvem que foi enrolando nas mãos até obter uma pedrinha de granizo. O arremesso certeiro levou o projetil a um palmo das costas de Berenice.  O trovão produzido pelo impacto foi seguido por um "ah não Adriel" e por uma chuva de pedrinhas atiradas de volta e aparadas com facilidade, afinal a telecinese era um dom natural neles dois.
O mote da brincadeira era apenas flagrar o companheiro distraído, mas desta vez além de gerar as gargalhadas de Adriel chamara a atenção de Agaladyz, que bem instalado na ponta de uma estrela amarela, revisava os indicadores de um relatório de desempenho.
Não estava muito satisfeito com os números do quadrante GJX-380, demandava uma aplicação de recursos que ele sabia estarem escassos. A expansão acelerada do universo e o surgimento daquela infinidade de novos mundos estava exaurindo sua capacidade de intervenção para os pequenos ajustes e correções que tinham sido previstos no projeto.
O problema no GJX-380 era um planeta azul muito novo e onde a espécie dominante ainda não tinha encontrado o ponto de equilíbrio.
Pensou um pouco e resolveu ousar, ora bolas, não perderia nada tentando, e poderia dar certo.
Usou o WhatsInHeavenZap para marcar o encontro, fez algumas ligações e preencheu alguns formulários do Departamento de Gente antes de se dirigir para a sala de reuniões.
Já encontrou Berenice e Adriel sentados com cara de "que foi que eu fiz".
Seguindo o roteiro padronizado fez um preambulo relembrando aos jovens a missão, as metas e o lema da corporação, "Deus é grande", antes de expor a situação no planeta azul.
Os habitantes não contribuíam para aumentar o nível de felicidade do universo, fomentavam discórdias, viviam em guerras, não acreditavam em si mesmos, e pasmem, nem em anjos !!!
Era tarefa dos agora Anjos Estagiários Nível I resolver esta não conformidade. Começassem por fazer os descrentes a acreditar em anjos. Ficou satisfeito consigo mesmo, aquilo ia dar certo, aqueles dois iam deixar marcas inesquecíveis naquele planeta.
De volta à sua estrela começou a leitura de novo relatório, quadrante KTR-915, ótimos índices, o destaque era a Terra, onde os golfinhos vinham fazendo um excelente trabalho, um projeto perfeito.
Por força do hábito anotou uma alternativa para um possível situação de risco que iria levar à discussão na próxima reunião do board, uma ação profilática eliminando os homens, uma espécie de praga em expansão, que habitava a região não aquática do planeta mas que ensaiava um avanço em direção ao oceano.
Uma supernova explodiu no horizonte e pode ter despertado sua compaixão.
Agaladiz avaliou o custo da operação e descartou a ideia, talvez a praga se extinguisse sozinha.
Não salvou a anotação.






segunda-feira, 27 de outubro de 2014

The Night They Drove Old Dixie Down

Sarrià sertanejo

Dilma venceu em Minas mas Belo Horizonte abraçou Aécio.
Abraçou apertado, vibrou com as atuações nos debates, festejou liderança em pesquisas, foi às ruas, vibrou e chorou quando às 20:00 horas do domingo a televisão mostrou que Minas são muitas e que o sertão mineiro é vermelho.

A segunda feira de Belo Horizonte veio fria e cinzenta no mesmo clima de tristeza e decepção dos dois terços de seus habitantes que despertavam para uma realidade que não tinham conseguido mudar.
Acreditaram até o último instante, afinal Minas é a terra do improvável, que o digam São Victor e a torcida do Galo. O silêncio nas ruas, ônibus e escritórios quebrado por conversas apenas murmuradas, "que coisa", "como pode o melhor perder ?", " mas logo Minas",  veio com o jeito da derrota da seleção para a Itália no palco catalão do Sarrià.

Hoje a dor pareceu tão grande que os vencedores evitaram a justa comemoração, afinal a vitória lhes bastou. O Natal vem aí, as amizades do face vão se refazer, Belo Horizonte vai se unir de novo e voltar a ser feliz.

À geração de jovens que enfrentou sua primeira luta política e agora amarga o gosto da derrota só posso recomendar-lhes a tenacidade.
Não desistam, mudanças não são instantâneas, o futuro que desejam só pode ser construído com muito trabalho e participação.
Nada de migrar para a Austrália ou Canadá, o Brasil é de vocês.

Aos jovens que sorriem triunfantes fica meu desejo, quase impertinente nesta hora, de que não se contentem com o que já alcançaram,  que tenham a ousadia de contestar,  que não se deixem prender a ideologias e receitas antigas.
Inovem moçada, que o novo só acontece através de vocês.
Desconfiem dos que tem mais de trinta anos, a história não se repete, não existem velhos revolucionários.


sábado, 25 de outubro de 2014

Bendito Exagero

Algumas coisas você nunca acha que tem o bastante.
De algumas coisas você sempre quer mais.
DN é assim com chocolate, com fotos dos filhos e netos.
Eu sou assim com DN.
Bebo uma caixa dela e continuo com sede.





Viver vivendo

Acordou com uma sensação estranha, sentindo que lhe sumira alguma coisa.
Tateou o corpo no escuro, não deu falta de nada.
Apertou os olhos com força para sondar seus sentimentos.
Encontrou um imenso vazio.
Onde fora parar tudo que guardara na alma ?
Perambulou o dia inteiro sem queixas e desejos.
À noitinha procurou quem lhe entendesse e achou o Fernando Pessoa, 
sendo o Alberto Caieiro e simplesmente florindo sem precisar mourejar.

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.)
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

Alberto Caeiro, in “O Guardador de Rebanhos – Poema XXXII”




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Amiga é pra estas coisas

Era o inicio da noite de um dia difícil e chegar em casa não estava ajudando nada.
O elevador estava quebrado, a lâmpada do banheiro não acendeu e as duas cartas de cobrança não trouxeram boas notícias.
Tomou banho no escuro, demorando-se mais do que o costume, desejando que a água quente, que escorria pelo ralo, pudesse levar o ódio que a preenchia desde o instante em que o gerente da loja veio com a conversa de que ia lhe "dar um feedback" e recitou um discurso pontuado por palavras em inglês, elevando o tom quando dizia profissional e metas.
Não conseguira ouvir nada, permanecera todo o tempo da espinafração com os olhos fixos na Rita, que na outra ponta da loja, fantasiada com asas de fada e antenas de abelha tal como ela, atendia uma cliente que procurava um brinquedo para uma criança de dez anos, e não servia jogo, eita coisa difícil.
Não contestou o João Vitor, ficou só imaginando como seria bom se livrar daquele emprego.
Há poucos meses, tudo ainda corria bem, era gerente de crédito numa importadora, começara o mestrado, financiara um Palio 2009, mobiliara com gosto aquele dois quartos alugado, e seu rolo com Jonas estava ficando sério.
Por artes do destino, quase por nada, na verdade por causa de uma piada mal compreendida, os sócios se desentenderam e a firma fechou.
Durante alguns tempo ela tentou um trabalho que lhe proporcionasse o mesmo salário.
Seu saldo bancário drenado pelos múltiplos financiamentos fez com que fosse baixando suas expectativas até chegar à loja de brinquedos.
Antes de se transformar numa vendedora foi aos poucos se desfazendo das conquistas, que lhe eram tão caras, devolveu o carro, abandonou o mestrado, vendeu a televisão moderna.
Fez-se forte e achou alternativas para sobreviver na cidade grande, renegociou o débito do cartão de crédito e do cheque especial, conseguiu a Rita para dividir o apartamento.
Não ia voltar para o Carmo derrotada.
O que a amargurava mesmo era ter perdido o Jonas, em que ela tinha investido tanto.
Queria muito casar, ser mãe de família e já não era tão jovem.
Tirou a caixa de leite da geladeira e buscou no armário a caçarolinha e a colher grande.
Abriu a lata de Nescau e viu que a quantidade não dava para fazer brigadeiro.
Estava chorando baixinho quando a Rita chegou despejando assunto.
Amiga, nem te conto, sabe aquele cara da agência de viagens que você interessou ?
Pois é, veio perguntar montes de você.
Dona Lurdes deu a maior bronca naquele prego do João Vitor, projeto de gerente.
O representante da Mattel deixou brinde para nós, chocolate, olha que delícia.
A Rita não existia.
Recebeu o abraço amigo sentindo que a água do banho tinha lavado sua alma.
Foi dormir em paz com o mundo.




 

 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

É Tetra !!! ??? !!! ???

Nesta eleição todos os candidatos já foram tidos como favoritos.
Dilma, Aécio, Marina, Dilma, Aécio.
Agora, na reta final, as pesquisas voltam a apontar a provável vitória de Dilma.
Se não ocorrer nenhuma catástrofe e nem estivermos diante de outra falha grotesca dos institutos de pesquisa o Brasil deve continuar tendo uma presidenta.
Imagino o suspiro de alívio na campanha petista quando os trackings confirmaram mais uma virada.
Não consigo imaginar o desânimo do lado tucano vendo o triunfo escapar tendo estado tão próximo.
Estou apostando que não vira mais.

Esta foi uma eleição inesquecível, em que a política voltou a ser assunto para ser discutido nas rodas de amigos, como o futebol e a falta de chuva.
Uma eleição difícil em que o PT, pressionado por um clima de muita desconfiança escondeu cores e bandeiras, jogou bruto, passou aperto, mas como diria Lula, venceu nos penaltis.
O partido recebeu um voto de confiança do povo e não um cheque em branco, espero que os radicalismos sejam descartados junto com o material de propaganda.
Na próxima segunda feira é hora de ensarilhar armas e ódios.
 
Ontem ainda no calor da campanha Lula esbravejou contra todos os jornalistas da Globo, menos o Galvão Bueno. Quando perguntaram  porque tinha poupado o locutor esportivo, respondeu morrendo de rir. É porque domingo eu quero escutar ele gritar:
   "É teeeeeeeetra !!! É teeeeeeeetra !!! É teeeeeeeetra !!!" 





segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Orion e a chuva

É na madrugada de hoje para amanhã que acontece a Orionídeas uma das duas chuvas de meteoros anuais ainda proporcionada pelos restos da passagem do cometa Halley.
Bom chuva, é modo de dizer, a olho nu talvez possam ser vistos de cinco a vinte meteoros por hora.
Da meia noite até o sol nascer, quem olhar para o leste. na direção das Três Marias, aquelas famosas do cinturão de Orion, talvez enxergue uma estrela cadente e possa fazer um pedido.
Aos que tiverem esta sorte, peço que adiem para o ano que vem desejar um novo amor, ou a volta de um antigo,  acertar a mega-sena ou ganhar outra libertadores, torço muito para que desejem uma chuva de verdade.



domingo, 19 de outubro de 2014

Muito tempo depois

E tem momentos que duram para sempre ...

O momento certo

Tem um momento na vida que  a gente não esquece.
Sei de alguém que teve o seu numa tarde quente de domingo quando conheceu um rosto que saiu de traz de uns óculos escuros e fez cara de difícil.
Nat King Cole entende bem este sujeito.

Memória fotográfica

As pequenas férias tiveram o dom de recarregar suas baterias e  deixa-la nova em folha para outro período de trabalho intenso. Uma semana maravilhosa passada com o namorado em Frankfurt colocando o amor em dia fora seguida por uma rápida visita ao pai em Brussels e depois um tempinho fazendo nada, em casa, em Paris.
Cumprimentou os colegas e foi se inteirando das novidades ao mesmo tempo em que percorria o checklist no tablet. Estudara literatura mas sabe-se lá porque acabara na aviação. Gostava da profissão, que estava prestes a deixar, com a aposentadoria programada para o final do ano.
Esforçou-se em dar atenção especial a Ana que animada com a chegada ao topo da carreira fazia sua estréia na equipe.
Lembrou-se da sua primeira viagem, aos 23 anos, de Paris a Marseille. Hoje, quase vinte anos e quatro casamentos depois, era a comissária chefe no voo da Air France que fazia a rota Paris New York e ainda sentia a boca seca ao efetuar os procedimentos de preparação para decolagem. Estavam lhe oferecendo um serviço em terra mas já tinha decidido que  não ia aceitar, gostava de voar.
Riu de uma piada velha e embarcou.
Ao receber os passageiros reconheceu vários rostos, tinha a memória fotográfica clássica, habilidade conhecida apenas por poucos amigos.
Com duas horas de voo recolheu a edição do dia do Le Figaro que escorregara para o chão junto a uma fileira vazia. Antes mesmo de voltar com o jornal para o encosto da poltrona sentiu o incomodo provocado pelo resultado instantâneo das sinapses conectando os fatos.
Todos aqueles rostos tinham sido companheiros em outra viagem, muito recente.
Durante as férias, a despedida demorada em Frankfurt fizera com perdesse a hora, mas suas boas relações tinham lhe conseguido uma poltrona em um voo para Freetown com escala em Brussel.
Ficou se perguntando já sabendo a resposta. Qual a chance de vinte pessoas jovens, que aparentemente não se conheciam, pois não se sentavam juntos nem mantinham nenhuma comunicação, e que há alguns dias iam da Alemanha para a Libéria estarem agora novamente reunidas, voando para New York ?
A matéria do Le Figaro sobre o aumento do número de vitimas do Ebola vinha logo abaixo da foto do bombardeio de uma refinaria ocupada pelo ISIS.
Não houve como convencer o comandante de que ele não estava diante de uma louca surtada e precisando, de fato, se aposentar. Foi delicadamente dispensada de continuar exercendo suas atribuições. Entendeu a decisão, um tripulante desequilibrado era um risco inaceitável, e fingiu não perceber a discreta vigilância que passou a receber.
Usou o celular para entrar em contato, pela intranet, com um velho amigo que trabalhava na área de segurança da da empresa. Foram mais duas horas tensas até receber a resposta: devia ser mesmo coincidência, quase  todos eram americanos, mas se pudesse encaminhar fotos elas seriam de grande ajuda.
Já estavam se aproximando do continente quando veio a mensagem confirmando a boa notícia, era mesmo um alarme falso: Washington tinha investigado, completasse a viagem tranquila.
Permitiu-se uma taça de champagne, já sabia que não ia esperar o fim do ano para deixar de voar.
Minutos depois, em Halifax, o controlador de voo esfregou o olho e chamou o companheiro.
O pontinho brilhante que representava o AF12 tinha sumido da tela.




 


sábado, 18 de outubro de 2014

A volta da paixão

Praça da Sé - comício das diretas
A eleição virou uma decisão de campeonato de futebol entre dois adversários do mesmo estado. A paixão já ultrapassou a razão faz muito tempo. Os argumentos já deixaram de fazer sentido e a verdade passa férias em Lambari.

A baixaria rasgou fantasias, igualou defeitos e qualidades, e trouxe a política para o nível do cotidiano com discussões acaloradas entre colegas de trabalho, de escola, na roda de amigos e até entre membros de uma mesma família quando o grupo não vota unido.

Clima tenso na imprensa, as empresas alardeando que se policiam para respeitar a lei e não favorecer um ou outro candidato e os editores e jornalistas fazendo de tudo para enquadrar seu favorito no melhor angulo.

Nas redes sociais a paixão cega acolhe com naturalidade todas as mentiras e sandices que demonstrem a correção da própria escolha e o horror que teria sido a outra.

Pena que o debate não tenha o tom elegante e a profundidade filosófica que alguns gostariam.
Que bom, que para o povo, a política voltou a ser coisa importante, e talvez, passada a eleição, possa ser discutida à sério e possamos celebrar a vitória de ter descoberto que é nosso o poder de definir quem dirige a nação.

Quanto à imprensa, eu prefiro veículos que tem lado e defendem claramente propostas políticas e ideológicas. Não acredito que algum dia tenha existido imprensa isenta, desde Gutemberg que publicou a bíblia para combater o papa.

O melhor de tudo isto é que mesmo com toda a agressividade, o clima é o dos velhos clássicos, quando as torcidas iam juntas para o estádio e as ofensas se restringiam a xingamentos beirando o infantil. Saudades da torcida do Galo, respeitadora, que só gritava o famoso "1,2,3 pô rôla" quando não havia mulheres por perto.

Que daqui a dois anos possamos ter a mesma empolgação e continuar votando nos que acharmos que melhor nos representam.

Seria um bônus se PT e PSDB, irmãos siameses, pudessem nos brindar com  melhores práticas de governança política e comprometimento com a democracia representativa.


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Coisas da guerra

Ah vaidade ! Não és companhia para guerras.

Aécio foi para o debate como um graduando que apresenta o trabalho de conclusão de curso a uma banca de professores amigos. Dilma chegou como a advogada do filho em um juri popular.
A audiência recorde foi fruto da campanha tucana que desejava um Mineirão lotado aplaudindo a goleada e garantindo a vitória com muitas rodadas de antecipação.

Dilma não foi debater programa de governo ou ideologia política mas derrotar o oponente numa discussão, ou passar a imagem de que derrotou.
Disse verdades e mentiras com a convicção dos justos.
Com estratégia bem preparada, teve seu grande momento numa fala inimaginável quando chamou a si a responsabilidade pelas investigações na Petrobras e  transferiu as acusações de corrupção para o lado do adversário, mas a vitória se deu com a pergunta não feita, talvez guardada para o futuro, quando colocou a questão da violência contra a mulher.
Aécio vacilou feio, demorou a responder, talvez antecipando a explosão de uma bomba na réplica, e quando a bomba não veio congelou bons 5 segundos antes de se pronunciar na tréplica.
Aí acabou o jogo, a oratória estudada e brilhante de Aécio perdeu a emoção e a auto-confiança, foi se arrastando vazia até o fim do programa.

Dilma comemorou a ultrapassagem do maior obstaculo sorrindo e batendo com a pranchetinha de notas na palma da mão esquerda.
Ao ser cumprimentada por Aécio imagino que possa ter lhe dito ao pé do ouvido: aqui em casa o sistema é bruto moleque.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Madrugada sem lua

Noite sem lua, de muitas estrelas, friozinho de usar agasalho,
O sono não vinha, foi se sentar na varanda do racho de pescaria.
Buscou a poltrona, velha de três reformas, que não tinha passado pela porta da sala.
Gostava de ficar sentado de frente para o Rio Verde, ouvindo a água correr e vendo o contorno do cafezal subindo pela encosta na outra margem.
Se sentiu feliz, ali no silêncio da noite.
Tinha criado os filhos, amava a mulher, não tinha inimigos e construíra o rancho.
A vida era generosa com ele.
Só o sono não vinha.
Viu o rádio no beiral da janela e ligou o aparelho só para movimentar o braço.
O som veio baixinho mas limpo, sem estática.
A canção antiga lhe trouxe as melhores lembranças.
Levantou-se para buscar um uísque.
O sono ia vir.
Ao cruzar a porta viu a mulher vindo a seu encontro.
Escutando rádio. Tá sem sono ? 
Que saudade desta música...
Desistiu do uísque.
Foi beijar na boca.
O sono não veio.
Ia esperar o sol nascer.


Voo livre

Vinha flutuando no céu, por entre prédios e árvores, surfando no vento quente que tomara a cidade.
Ia de um lado para o outro, para cima e para baixo, de uma esquina até a outra, em espirais caprichosas, difíceis de adivinhar.
Às vezes parava bem alto, e nestes instantes de pausa, olhava meio enfadado, a vida fluindo lá embaixo.
Viu a menina Marina cantando para a boneca, planejando brincadeiras.
Viu a Julia, no uniforme da escola, esparramada na cama, com o telefone na mão, fuxicando no face do Duda, um ficante interessante e sumido há muitos dias.
Viu Germano, no balcão do botequim, lendo pela terceira vez o mesmo jornal de outro dia.
Viu Zaíra passeando as três poodles pela praça, mas de olho na Clarisse, casada com o Damião, que conversava animada com um rapaz bem apanhado que não se sabia quem era.
Viu seu Nicácio, nervoso, conversando com Welington, porteiro do prédio verde, sobre os malfeitos do síndico e a preguiça da faxineira.
Viu o ônibus parar preguiçoso, deixar dona Lourdes com as compras e levar o seu Antônio, de paletó e gravata, para visitar a Neidinha lá no alto das Mangabeiras.
Viu os micos barulhentos, comendo as frutas roubadas, fazer o caminho de volta, do condomínio para a mata, se balançando suspensos pelos fios da rede elétrica.
E quando o vento passou, e o chão foi se aproximando, ainda viu dona Dulce, entre rindo e soluçando, tentando reunir de novo os pedaços, que junto com ele trouxeram, num formato tão antigo, uma folha de papel, um pedido de perdão.

sábado, 11 de outubro de 2014

Valeu Supla !



Valeu doidão ! A luta continua. Um dia ainda vai rolar.
Dylan e os Stones cantam é pra você.

Para quem não conhece: o programa de renda mínima de Suplicy


O empate técnico e o legado de 1789

Neste momento a eleição esta empatada.
Os tucanos que me perdoem a franqueza, a favorita continua sendo Dilma.
Quase metade da população ainda vota no PT não dando importância ao noticiário negativo.
A quase metade que vota em Aécio pode mudar de ideia se aparecer uma notícia muito ruim.
Mas se Dilma ganhar, não sei se o sabor da vitória lhe será doce, a estratégia de subir o tom na guinada à esquerda esta nos legando um país perigosamente dividido, mergulhado em conflitos artificialmente acirrados que podem nos levar a situações a que estamos pouco afeitos.

O povo acabou de eleger um dos congressos mais conservadores da história.
A maioria ampla e silenciosa dos eleitores não adere às mesmas teses das minorias barulhentas e muito ativas na mídia.
O povo, mesmo o que vota em Dilma, não concorda com cotas raciais, com o estatuto do menor, com a demarcação de reservas indígenas e quilombolas, com a invasão de terras e moradias, com o financiamento público de campanhas políticas ...
Vitoriosos, os radicais vão se achar no direito de "avançar" numa direção que historicamente nunca produziu bons resultados.

A revolução, a verdadeira, não se faz por ato de força, muito menos por decreto.
O primeiro passo para o progresso social no Brasil vai estar dado quando entendermos que programas de renda mínima não são caridade nem apologia ao ócio mas uma evolução natural da civilização.
Pode levar gerações, mas somente quando este princípio brotar espontaneamente dos corações e mentes de todo o povo teremos um sociedade em que seja possível exigir de cada um segundo sua capacidade e devolver a cada um de acordo com sua necessidade.
O avanço não se dá por meio da luta de classes, do centralismo democrático ou de decisões heroicas, a igualdade e a fraternidade serão filhas gêmeas do amor e da educação que pudermos legar a nossos filhos. A liberdade - ah ! a liberdade ! - é o corolário natural de uma sociedade em que os diferentes se respeitam e reconhecem nas diferenças a mesma origem divina.

A revolução transformadora é obra dos jovens e apenas dos jovens.
Aos velhos revolucionários peço paciência, tolerância, e esperança.
Aos jovens peço que consultem a enorme generosidade que guardam na alma.
Se tiverem tempo, que atendam também à pressa do Papa Francisco.
Sejam revolucionários !


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Aliança programática

Collor só venceu a eleição porque Lula amarelou no último debate da Globo.
Marina amarelou quando começou a levar pancada. No debate já tinha entregue os pontos.
Não são poucos os relatos de que se mostrou aliviada quando a apuração foi encerrada e se viu liberada do fardo da presidência.

Aliviada e magoada, trocou de mal com Dilma e insinuou apoiar Aécio. A conversa de apoio foi um chiste, impossível de acontecer, já que condicionado à aceitação pelo tucano de pontos como independência do IBAMA, apoio ao MST e manutenção da maioridade penal.

Marina abdicou de apoiar Dilma, abdicou de apoiar Aécio e o tempo nos dirá se abdicou também da política. Parece que a fada vai voltar para a floresta e esperar a hora em que será convocada a aceitar a coroa de imperatriz do reino dos homens.

Já eu, que não busco cargos, prebendas ou sinecuras, asseguro desinteressado apoio ao candidato que se comprometer com alguns pontos que destaquei de meu programa de governo.

Inclusão Social
Promulgação da Consolidação das Leis Sociais incluindo a transformação do Bolsa Família de Programa de Governo em Política de Estado e garantindo o piso de um salário mínimo às famílias assistidas.

Liberdades e garantias Individuais
Descriminalização das drogas e do aborto.
Revisão da lei 7.716 garantindo o livre direito de expressão.
Legalização das uniões homo-afetivas.

Reforma política
Proibição da re-eleição para cargos majoritários com a manutenção dos mandatos de quatro anos não coincidentes, e quarentena de no mínimo dois mandatos para outra candidatura ao mesmo cargo.
Para eleições legislativas proponho a proibição de coligações, adoção de lista fechada, pré-ordenada
e permissão para no máximo duas re-eleições, também com quarentena de no mínimo dois mandatos para outra candidatura ao mesmo cargo.
Financiamento privado, sem limites e obrigatoriamente publicado na internet.
Extinção do Fundo Partidário e proibição de qualquer financiamento público para atividades políticas.

Educação Básica
Valorização do professor não apenas do ponto de vista de remuneração mas, principalmente do respeito devido ao cargo, com o abandono das políticas de acolhimento que obrigam as escolas a manter delinquentes contumazes convivendo e influenciando jovens de boa índole, expostos precocemente às regras do mundo das facções criminosas.
Introdução no currículo de formação de professores de matérias técnicas, hoje, pasmem, inexistentes, que os ensinem a ensinar.

Saúde
Criação da carreira de médico. Incrível não ter.

Paro por aqui. Bom ou não candidatos ?
Estou disposto a negociar, política é a arte do possível. Ou não ?





 

A penny for the old Guy

Acho que o povo é conservador, ama a ordem e o progresso.
Em 1605 Guy Fawkes, que não gostava muito do bom rei James I, tentou explodir o parlamento inglês usando barris de pólvora. Foi  o verdadeiro V
O serviço secreto de sua majestade descobriu o plano. 
Ele foi preso e executado.
Todo 5 de novembro os ingleses ainda soltam fogos de artifício e queimam bonecos de Guy.
Neste dia as crianças saem pedindo "a penny for the old Guy" para produzir a festa.
O financiamento é exclusivamente privado.
TS Eliot andou refletindo a respeito da natureza de homens, ratos e espantalhos, e descobriu que é possível viver sem alma e que o mundo, não se acaba em uma explosão, mas num suspiro. 
Mas isto a gente já tinha ouvido de Marlon Brando em Apocalypse now.

TS Eliot - Os homens ocos 
 
Uma moeda para o velho Guy 

( tradução de  Ivan Junqueira )

I

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular

III

Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.

E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

IV

Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos

Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio

Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

V

Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada

Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a ação
Tomba a Sombra                                          Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
                                                                             A vida é muito longa

Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
                                                                    Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o

Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.
               
                                      =======================

The Hollow Men

A penny for the Old Guy

I

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us - if at all - not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.


II

Eyes I dare not meet in dreams
In death's dream kingdom
These do not appear:
There, the eyes are
Sunlight on a broken column
There, is a tree swinging
And voices are
In the wind's singing
More distant and more solemn
Than a fading star.

Let me be no nearer
In death's dream kingdom
Let me also wear
Such deliberate disguises
Rat's coat, crowskin, crossed staves
In a field
Behaving as the wind behaves
No nearer -

Not that final meeting
In the twilight kingdom


III

This is the dead land
This is cactus land
Here the stone images
Are raised, here they receive
The supplication of a dead man's hand
Under the twinkle of a fading star.

Is it like this
In death's other kingdom
Waking alone
At the hour when we are
Trembling with tenderness
Lips that would kiss
Form prayers to broken stone.


IV

The eyes are not here
There are no eyes here
In this valley of dying stars
In this hollow valley
This broken jaw of our lost kingdoms
In this last of meeting places
We grope together
And avoid speech
Gathered on this beach of the tumid river

Sightless, unless
The eyes reappear
As the perpetual star
Multifoliate rose
Of death's twilight kingdom
The hope only
Of empty men.


V

Here we go round the prickly pear
Prickly pear prickly pear
Here we go round the prickly pear
At five o'clock in the morning.
Between the idea
And the reality
Between the motion
And the act
Falls the Shadow
                                        For Thine is the Kingdom
Between the conception
And the creation
Between the emotion
And the response
Falls the Shadow
                                                    Life is very long
Between the desire
And the spasm
Between the potency
And the existence
Between the essence
And the descent
Falls the Shadow
                                        For Thine is the Kingdom
For Thine is
Life is
For Thine is the

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

A menina de verde

Estava descalça, tinha os cabelos curtos e claros, quase louros.
Vestia um traje verde, acolchoado nos joelhos e cotovelos.
Compenetrada, respirou fundo, apertou as rédeas na mão e levou o cavalo a trote pelo longo corredor até a entrada do enorme picadeiro.
Já num meio galope, ouvia os aplausos e gritos de incentivo enquanto ia executando acrobacias que arrancavam exclamações de admiração e incredulidade.
A série de exercícios ia se repetindo e o cavalo circulando em torno do tablado central.
Aos poucos, o ruído das palmas foi sendo abafado pelo de uma voz conhecida que ficava cada vez mais alto até se tornar o único som em sua cabeça.
- Vamos almoçar ?
Encostou o cavalo na mesinha da sala e emburrou.
Não quero, e trancou a boca.
Ia ser uma ginasta.
Ginastas são muito fortes, não precisam almoçar.
Venceu pelo cansaço e dormiu sem comer.

No meio da tarde acordou vitoriosa e saiu para o passeio de sábado.
Cavalgou nos ombros do pai até a floresta da praça, onde as arvores, que se erguiam até o céu, escondiam bandos de passarinhos nos galhos de cima e todos aquele bichinhos engraçados entre as raízes. Correr pelo chão de pedras brancas e vermelhas que não se acabava nunca, conversar com os peixes do tanque, brincar com outras crianças, disto ela sempre gostava.
Ia ser arquiteta, reprojetar o mundo como uma imensa praça e todo almoço ia ser de pipoca e algodão doce.

Já meio escuro fez o caminho de volta na cadeirinha dos braços do pai.
Vinha viajando entre as luzes das vitrines, colecionando novidades e surpresas, até encantar-se com um novo amigo, o coelhinho de pelúcia rosa mais macio do mundo.
Agradeceu com um beijo registrado para sempre na memória do pai.
Ia ser psicanalista e entender a alma das pessoas.

Muitos anos depois, sentada na varanda, pés descalços repousando num tapete de sol, olhou o fundo da xícara e viu refletido no chá a imagem de uma menina franzina, vestindo um traje verde, gineteando o cavalinho de pau com um coelhinho rosa.
Levou a xícara aos lábios e sorveu a lembrança.

Traçara seu próprio curso cavalgando o destino em pelo, mãos firmes a segurar-lhe as crinas.
Agora era gente grande, o mundo lhe parecia pequeno e almoçava quando queria.
Procurou os sapatos, fez um carinho no gato e foi cuidar da vida.
Foi vestir um traje verde.


sábado, 4 de outubro de 2014

Vai começar a festa !

Amanhã a esta hora, já teremos a presidente com um novo mandato ou a definição de um segundo turno.

De duas coisas tenho certeza de que vou me sentir orgulhoso.
A primeira é do processo eleitoral que implantamos neste Brasilsão, rápido, seguro, supimpa !
Exemplo para o mundo !

A segunda é do povo brasileiro que sabe sim como votar.
Engana-se quem acredita que o povo vota enganado.
O povo vota é como quer, segundo seus próprios interesses, que podem não ser os mesmos dos formadores de opinião, dos amigos, dos parentes, dos anjos ou dos demônios.

Os pobres, os analfabetos, os habitantes dos grotões, tanto quanto os sábios e a elite metropolitana sabem pesar e escolher proposta políticas.

Votos não tem CEP nem CPF e têm todos o mesmo valor.

Quando sair o resultado, seja qual for, vamos comemorar a vitória da democracia representativa.
Se o nosso candidato não vencer é porque a maioria dos eleitores discordou de nossas opiniões.

Democracia representativa.
Pode ser ruim, mas ainda é o melhor dos regimes que a civilização inventou.


sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Over The Rainbow & What A Wonderful World

Este é o Israel 'IZ' Kamakawiwo'ole  ou simplesmente IZ

Iz é muuuuuito grande.
Iz canta divinamente.
Iz gosta de chocolate.
Iz é feliz.                            www.youtube.com/watch?v=Z26BvHOD_sg

Seja feliz você também.


Eppur si muove

Há de se ter cuidado com a crescente onda de intolerância contra opiniões "fora de moda".
O direito à expressão é o núcleo das liberdades individuais.

Quando as crenças que não são as nossas são criminalizadas, e banidas do debate pela força, apenas adiamos o confronto de idéias, causa, e consequência, do aprimoramento da civilização.

A militância LGBT, insuflada por grupos políticos oportunistas e apoiada pela grande mídia, vem, de maneira sistemática e a meu juízo, equivocada, confundindo a profissão de crenças morais e religiosas, legítimas, seculares e entranhadas na sociedade, com atos de discriminação e segregação de minorias, estes sim, odiosos e indesejáveis.

Quem viveu os anos de chumbo, se recorda bem dos assuntos proibidos.

Os que pregam a diversidade deveriam ser os primeiros a entender que a tolerância é uma via de mão dupla e que, no campo das idéias ela não pode ser limitada. Somente a intolerância é intolerável.

Tenho fé que ainda vamos poder, civilizadamente, rever a lei 7.716, que criminaliza a discriminação, nos pontos em que tipifica como crime a incitação ao preconceito, limitando o direito de expressão. A abrangência do artigo é espantosa, e elenca "raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência".

Ao pé da letra pode ser enquadrado em injúria quem me chamar de "velho babão", ou de "anão homofóbico" ao  Levir Fidélis.

Sim, eu prefiro que as pessoas tenham o direito de expressar preconceitos e defendo a descriminalização de todos os "delitos de opinião".

Criminalizar o pensamento mais que uma violência é uma inutilidade. Idéias proibidas tem o dom de se esconder e sobreviver. Preconceitos e discriminações devem ser combatidos à luz do bom combate, no dia a dia de cada um de nós, livres  para agirmos e pensarmos, censurados apenas por nossa consciência.

Em 17 de fevereiro de 1600 um frade que dizia que o Sol era maior que a Terra, que o universo era infinito e se confundia com Deus, que todas as religiões eram boas e também que padres e mulheres deviam se permitir o prazer, teve a língua arrancada e foi queimado em Roma, no Campo di Fiori.

Em 22 de junho de 1633 outro homem, que acreditava que a Terra girava em torno do Sol, escapou do mesmo destino abjurando sua crença. Reza a lenda que, dando as costas aos juízes, sussurrou a um companheiro Eppur si muove.

A comparação é forte ? Pois é, não existe liberdade relativa.

V de vergonha

Negar licença para advogar a Joaquim Barbosa é uma das vingancinhas mais torpes e mesquinhas que esta República já viu.

Tinha que acontecer em Brasília, cidadela do "direito achado na rua" e túmulo da idoneidade moral da nação.

Joaquim é, de fato, grosseiro, pedante, presunçoso e, acredito, de trato difícil, mas até onde se tem público, é uma pessoa íntegra.

Pode-se não concordar com suas convicções e muitos devem deplorar seus feitos, mas nem ele nem o povo brasileiro, que, em sua grande maioria, se vê representado pelo magistrado, são merecedores da bravata calhorda da OAB-DF.

42 Horas

A postura menos agressiva de Dilma nos últimos dias me faz crer que o PT escolheu Aécio como adversário.

No debate da Globo, bateu forte em Marina quando citou a prisão por corrupção do funcionário do IBAMA.

Claro que vitória no primeiro turno é uma probabilidade forte, até pela enorme quantidade de votos brancos e nulos, mas o arsenal esta melhor preparado para combater o tucano caso a eleição não acabe neste domingo.

Mais uma vez os votos de Minas serão decisivos. Com Pimentel vencendo já no primeiro turno e garganteando a derrota de Aécio em seu próprio território, a disputa federal pode virar um fim de semana em Gramado para Dilma.

Pode acontecer outra virada ? Eleições em Minas, são o reino de todas as possibilidades, as decisões só acontecem na boca da urna, como bem sabem Hélio Costa e Leonardo Quintão, mas o cenário mais provável é a volta ao ponto de partida, petistas contra tucanos, eles contra eles.

Faltam 42 horas.