Não da morte dos outros, que a gente antecipa, acompanha, assiste, e a depender de quem seja o outro, vela e enluta. Mas a consciência da morte da gente mesmo, esta coisa fugidia que a gente sabe que vem mas acredita que pode não vir.
Claro que pensamos na nossa morte, alguns até fazemos seguros e adquirimos jazigos.
Mas a consciência física da finitude, aquela que os soldados encontram na véspera da batalha, desta quase sempre fugimos. A situação de não existência fica guardada em um baú lá no fundo da alma.
A pandemia abre as trancas e expõe com crueza a nossa natureza de água e carbono.
A realidade da morte se exibe, visível à luz do dia, ou das estrelas a depender das horas.
E ela, a consciência da nossa morte, se materializa na forma de uma lente que nos faz perceber quão insignificante é nossa vida frente a extensão do universo, ao mesmo tempo que, se olharmos com atenção, descobrirmos também o milagre que somos, simplesmente por existir.
O pós-pandemia vai ser muito diferente, no mundo inteiro, mas para nós brasileiros, que não conhecemos as grandes guerras, vai trazer também um novo olhar para a vida e para o fim da vida.
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