Quando a banda começou a tocar um forró ela seguiu com o mesmo par. A conversa não era tão boa, ele não era tão bonito mas dançava muito bem, e ela adorava forró.
Viajou na música, entre um xote e um baião, se esparramando num pé de serra e vendo seu mundo caber inteirinho no salão.
Com o namorado ausente tinha se dado o vale-night. Não procurara as amigas, tinha saído sozinha, levando aquela sensação de que alguma coisa tinha sumido e que seus recentes quarenta anos tinham vindo cedo demais.
Aquela noite ela se acabou, dançou muito, bebeu várias caipirinhas, foi alvo de muitas atenções
mas desvencilhou-se das cantadas com habilidade e bom humor, ninguém era tão interessante e afinal, tinha um namorado.
Acabado o baile, não era de ferro, resolveu dar uma chance ao sujeito do forró e experimentou o beijo. Não foi bom.
Pois é. Preciso ir. Mesmo. A gente se vê.
Saiu dirigindo devagar, escutando o chiado dos pneus que rolavam pelo asfalto ainda molhado por uma chuva que ela não vira cair.
Na altura da Gameleira ligou o rádio, e com os Foo Fighters berrando palavrões em seus ouvidos acelerou pela cidade vazia.
Não pensou no Paulo, não pensava nele já fazia algum tempo. Tinham se envolvido logo após o divórcio, quando buscava nas baladas e muitos churrascos, com novos e velhos amigos, voltar no tempo e se reajustar ao mundo.
Paulo era um cara bacana, ótima companhia, mas as ausências constantes já tinham lhe mostrado que ele não era de maneira alguma essencial.
A noite cobrou uma dose de açúcar. Estacionou no MacDonalds e entrou na loja, não gostava de drive-thru. Pediu um milk shake e uma torta de maçã.
Já estava terminando quando ouviu seu nome.
- Irene ? Capeta !
Quase não reconheceu o Alex, cabelos bem cortados, bronzeado, vestido com uma roupa bacana, e com o que pareceu ser um rolex no pulso.
Os olhos e o sorriso eram mesmo os daquele colega bagunceiro e desleixado do segundo grau.
Na escola durante todo o curso pouco se falaram mas por artes do acaso, da lua e do mar de Porto Seguro tinha ficado com ele na viagem de formatura, a primeira vez em que traíra um namorado.
Não se viam desde aquela época.
Irene sentiu um calorzinho no coração.
- Voce esta sozinha ?
- Bom, eu tenho um namorado...
Os dois sorriram, fora com este mesmo dialogo que tinham iniciado uma conversa, parece que hoje de manhã, sob o sol de uma praia da Bahia.
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