A guerrilheira e o espírito do guerrilheiro

Do doutor Getúlio ao doutor Tancredo todas as grandes raposas políticas se orgulhariam de perfilhar as últimas artimanhas de Marina.

Numa marcha avassaladora levou pouco mais de 24 horas para implodir o PSB e aceitar, impondo as condições que bem quis, a candidatura que lhe foi oferecida por um Roberto Amaral com cara de tacho.

Quatro dias depois seu discurso já havia incorporado todas as bandeiras e projetos mais caros ao PSDB. O afago a José Serra quebrou a espinha de Aécio e foi a senha para a migração dos apoiadores do tucano para o voto útil e, talvez, com direito a cargo.

Com a coerência de quem sabe que o feio é perder, e que político em campanha é uma metamorfose ambulante, fez o ajuste à direita extirpando do programa de governo os arroubos bolivarianos, e antes do Bonner conseguir terminar uma pergunta já tinha se tornado a candidata do mercado e, a esta hora talvez até do agro-negócio. Marina, hoje, é a nova encarnação do sonho de 2002, um governo ético e eficiente.

Aos poucos o país vai se acostumando com a imagem de uma candidata que avança aparentemente sem fazer esforço. Há quem a compare a Lula. Talvez tenham semelhante a inteligência política mas, quando vejo Marina sempre me lembro é do Chê. Sem perder a ternura ela se mostra invariavelmente firme, dura, mesmo quando, pragmaticamente, transige. Guerrilheira sonhática, contraponto a Dilma, a guerrilheira de verdade, que mesmo quando procura ser terna parece bruta.

Com o PSDB fora do jogo a última esperança do PT é descontruir Marina. Missão quase
impossível. O eleitor, que já tem feijão, parece decidido a se dar a esperança de sonhar um sonho novo. E o povo sempre gostou do Chê. Menos a Galoucura, que torce por Barrientos, mas isto é picuinha de futebol.

Se o sonho vai ser bom ? Vamos ver. Hoje a única certeza que tenho é que daqui a quatro anos,
 - talvez cinco - Lula vai estar tentando um terceiro mandato e minha maior curiosidade, acreditem, é saber quem serão seus adversários.